quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cheguei em casa parecendo uma garota de 16 anos, vai ver foi o impacto, ou é você que trás de volta tudo o que eu sentia naquela época, ou é porque eu nunca quis apagar de fato tudo o que eu sentia por você.
Você cresceu, engordou, deixou a barba crescer, a sua voz engrossou, juro que quase não o reconheço, mas como algo aqui dentro insisti em insistir em qualquer coisa que venha de você, eu reconheci e fiz questão de parar para ter qualquer tipo de conversa torta, sem jeito e por pura obrigação.
- Olá.
- Ei, quanto tempo cara, 5 anos? 7 anos? 8 anos? Ou já são 10? Ah não vem me dizer que já é mais de 10...
- (São exatamente 12 anos) Acho que uns 9 ou 11.
- Tudo bem? Como andam as coisas?
- Andam bem, creio que no caminho certo e para você?
- Larguei a faculdade, vivo da música agora, eu sei que você vai dizer que viver de música é bonito mas não dá futuro, pelo menos não aqui, ou ao menos seria o que você diria a alguns anos atrás.
- É o que você sempre quis?
- Não exatamente, mas é disso que preciso.
- Então está tudo bem.
- E você? Toda vez que entro em uma livraria lembro-me de você, fico procurando qualquer livro com as tuas iniciais.
- Continuo respirando literatura e poesia de uma forma menos dramática. E quanto ao livro, ele ainda não saiu, um dia quem sabe.
- O que falta?
- (Talvez um drama típico de uma adolescente para me fazer não ser racional para continuar) Não sei, talvez não falte nada e por não faltar eu sinta falta, entende?
- Você continua com os mesmos paradoxos de sempre.
- Eles fazem parte de mim.
- Casou? Filhos?
- Eu?
- Eu sei que essa pergunta é meio improvável para você, mas sei lá, quis puxar assunto.
- Casei com os meus livros e os meus alunos são praticamente filhos.
- Sempre fugindo das perguntas.
- Respondendo só o que for necessário.
- Outro dia encontrei uma carta tua.
- Aquela que eu nunca te entreguei?
- Essa mesma que eu descobri depois de anos.
- O que me conforta é que naquela época eu era uma completa idiota.
- Nós éramos.
- É verdade, éramos.
- E que diferença faz?
- O quê?
- Que diferença faria se você tivesse me entregado?
- Não sei, acho que nenhuma porque eu nunca entregaria, e não me venha com essa que se eu tivesse feito algo teria sido diferente.
- Não quis dizer isso, até porque só o fato de ter acontecido já foi diferente.
- É. Outro dia encontrei aquela camisa surrada dos Los Hermanos.
- Lembro de você com Último Romance, vai ver é porque você nunca cantou bem e vivia cantando essa música.
- Bons tempos.
- Não voltam.
- Verdade.
- Bem, estou atrasado, preciso ir, a gente se vê outro dia?
- Tudo bem.
- Deixa eu anotar meu número...
- Obrigada.

(Um adeus cordial)

Encontro o bilhete e bem abaixo ao seu número está escrito:
"E até quem me vê lendo jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei."

Fico morrendo de vontade de te ligar, não para voltar, mas para relembrar as coisas boas, porém, me controlo, você é bom assim, no passado, fomos bons assim, no passado, você e eu só podemos ser conjugados no pretérito perfeito que nunca mais irá existir.
Você me ajudou a chegar até aqui com tudo o que me fez sentir sendo bom o ruim e te ligar, bem, estragaria tudo, estragaríamos tudo, então eu hesito e prefiro mil vezes te congelar da forma mais perfeita possível: Dentro de mim é a uns 12 anos atrás, onde éramos perfeitos um para o outro.

3 comentários:

  1. o tempo sempre destrói tudo mesmo, problema é que se nos atermos muito a essa triste verdade acabamos nos separando de toda esperança...

    beeeijos! Muito bonito o texto! E muito falastrões os personagens, haha.

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  2. Muito lindo, sério, menina. *-*
    Sou do tavezsem.tumblr.com

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