sexta-feira, 26 de abril de 2013

A tal da liberdade

Pedi um tratamento de choque, mas ele durou apenas um dia, não passou e eu sobrevivi...
Optei pela arma letal, e descobri que sou imune, ou seja, não passou de novo, e eu permaneci viva...

E aí eles vieram com a prisão perpétua, e eu teria apenas um dia para decidir pelo sim ou pelo não, sentei e chorei como quem perde um braço ou uma perna, na verdade, o que eu sentia não era literal, mas naquele momento a sensação parecia ser a mesma, a única coisa que eu queria era tirar aquela dor de dentro de mim, mesmo que para isso jamais sentisse algo do tipo de novo, porém, ainda que a prisão perpétua fosse o meu veredito final, do que adiantaria ficar presa em um lugar pra sempre se ninguém pode prender meus pensamentos, muito menos roubar minhas lembranças? Nada!
Cogitei a dor externa, como na época da escravidão, talvez a dor externa fosse maior que a interna, mas não foi, e não deu, além de sangrar por dentro, agora estava sangrando por fora também...
Tentei beber,  e esquecer da vida, mas vida nenhuma seria capaz de suportar tanto alcoól, e uma hora ou outra a sobriedade da minha existência estaria estampada bem na minha cara me mostrando mais uma vez que eu falhei, que a missão dada não foi cumprida...

Com o passar dos dias, fui acumulando mais advogados, todos se sentiam tocados pela minha dor, mal eles sabem que quem mais sente é aquele que está sempre sorrindo e fazendo os outros sorrir, eu não, eu não reconheceria meu rosto com um sorriso, não mais, já que cavei covinhas na minha própria face e nelas enfiei todas as minhas tristezas, e mesmo assim não foram suficientes...

Eu não tinha forças nem para recusar ajuda, e a cada batimento do meu coração, sentia meu peito "inchar", inflamar, sangrar, e praticamente explodir. Tentaram me reanimar com o desfribilador, não funcionou, entrei em coma de mim, e da vida, por ironia do destino ou não, acordei dias antes do julgamento final.

Meus advogados tentaram todas as opções possíveis e impossíveis, e eu permaneci calada, cega, e indiferente a qualquer reação que fosse diferente a tal dor, tentei ouvir os batimentos do meu coração e a única coisa que eu consegui ouvir foi um enorme eco, tentei me mover ou falar, e senti câimbra de mim, e câimbra do mundo,não lembro o que aconteceu no tribunal, não me recordo de quais argumentos usaram para tentar me livrar disso tudo, ou para acusar outra pessoa, lembro apenas do juiz dando o veredito final: "A réu está livre, está fadada a conviver com a sua própria liberdade"

Eu quis gritar, sair correndo e me esconder em um canto escuro da prisão que eu mesma criei, mas me calei outra vez, que porra de vida é essa? Ele poderia ter me dado qualquer setença e foi escolher justo a LIBERDADE? Quem é que sabe viver com a liberdade? Quem é realmente livre? Todos estamos fadados a algo, por mais pequeno que esse "algo" possa ser, ainda que não seja nada.
Estou completamente ferrada, porque aprendi a ser tudo, menos a ser livre.

Um ano, foi o tempo necessário pra eu passar pelo sol da vida, onde tudo era seco e iluminado até a escuridão da lua, onde luz nenhuma foi capaz de penetrar e tudo era inundado. Passei pelo lado sombrio do mundo, e pior, foi o meu mundo, e vejam só, permaneci imune, sobrevivi, continuo viva, com cicatrizes, mas viva.

Hoje, a minha carta de alforria chegou, demorou porque hoje em dia ninguém mais escreve carta e dentro dela estava escrito apenas: "Tu és livre!"
E eu aceitei, sou livre, não me traí, não me enganei, fiz escolhas e arquei com as piores consequências, conheci outro lado de mim, e descobri que posso superar até eu mesma se isso for preciso,
Meu futuro está fadado as minhas escolhas do presente, e não mais as do meu passado.
Até hoje eu não sei o que fazer com a tal da liberdade, mas continuo extremamente fiel ao meu eu, e isso deve ser algum tipo de sinônimo, hoje sou mais forte, e mais viva.
Não vou passar a minha vida fadada ao "se" e nem aos outros, se for pra ser, que seja pra mim e por mim, apenas.

Só quem passa pelos vales sombrios da vida, consegue sentir a simplicidade da mesma.

Hoje faz o ano do show mais feliz da minha vida, e vejam só, o mundo girou, e eu continuo feliz, porém, não mais nas mãos de alguém, e sim com um copo na mão, brindando a vida, a liberdade, a mim, ao(s) novo(s), aos meus amigos, e finalmente, ao fim.

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